domingo, 11 de setembro de 2011

Padeiros de letras

Johann Gutenberg (1398-1468), o artesão alemão a quem sempre se atribuiu o título de pai da moderna tipografia, pode ter que dividir a paternidade da invenção que revolucionou a disseminação do conhecimento. Com base na descoberta de fragmentos de cerâmica com letras impressas em alto relevo numa escavação nas proximidades da Catedral de Aachen, na Alemanha, o historiador Gerald Volker Grimm sustenta que Gutenberg não teria sido o pioneiro na impressão com tipos móveis.
A criação de moldes para a impressão de letras foi, provavelmente, desenvolvida originalmente por outras pessoas pelo menos meio século antes. Como revelam os estudos de Grimm e sua equipe do Instituto de História da Arte e Arqueologia da Universidade de Bonn, não houve um único inventor. O mais provável é que o desenvolvimento da moderna tipografia tenha sido um processo mais lento e gradual, envolvendo diversas pessoas.
Analisando as letras em alto relevo presentes nos fragmentos de cerâmica encontrados, Grimm concluiu que foram artesãos de Aachen e Worms os primeiros a produzir os moldes móveis de letras para decorar imagens de santos.
Segundo Grimm, Gutenberg teria visto os caracteres móveis para impressão pela primeira vez numa visita que fez a Aachen, em 1439 - ano em que, se acredita, Gutenberg teria criado os tipos móveis.
Segundo o historiador, na região de Aachen, a cidade de Carlos Magno, muitos padeiros eram também artesãos que confeccionavam, em fôrmas, relevos para a produção de imagens de santos para as igrejas. Já a partir do século XII os chamados "padeiros de imagens" (bilderbäcker, em alemão) começaram a confeccionar também caracteres móveis, supõe o cientista. Há indícios também de que os padeiros de Worms tenham começado a usar caracteres móveis muito antes.
Em um dos relevos encontrados em Aachen, as diversas letras A que aparecem no trabalho são idênticas, indicando que não poderiam ter sido feitas a mão, mas sim impressas na cerâmica a partir de um mesmo molde. Se a técnica das letras era usada também para a impressão de escrita em pergaminho já nessa época não se sabe. Gerald Volker Grimm mediu as letras de diferentes relevos para constatar que elas eram tão idênticas que não poderiam ter sido feitas à mão livre.
- Isso prova que a escrita foi feita com a ajuda de caracteres móveis que foram impressos no material - afirma o especialista.
As primeiras provas da existência desses caracteres móveis, datados de 1400 e 1450, foram encontradas agora nas escavações feitas em uma área próxima à Catedral de Aachen, que é, há pelo menos 1.200 anos, um importante centro de peregrinação religiosa na região.
Foi exatamente para preparar figuras santas, que deveriam servir de tema para a grande peregrinação a Aachen, que Gutenberg visitou a cidade. A peregrinação em si foi cancelada naquele ano, por causa da peste, mas Gutenberg não perdeu o seu tempo com a viagem a Aachen, pois trouxe de volta a Mainz, onde vivia, novas idéias para o desenvolvimento de projetos que já tinha em mente, segundo conta Grim.
- Não havia até agora provas da existência de caracteres móveis para a impressão da escrita em série. Com a escavação realizada agora, em maio e junho, podemos provar pela primeira vez que as letras dos relevos foram formadas com a ajuda de caracteres móveis antes de 1450 - ressalta o historiador de Bonn.
Após a sua volta de Aache, Gutenberg começou já em 1450 a imprimir textos em livros. A sua bíblia marcou o inicio de uma nova era, influenciou o surgimento da reforma protestante de Martinho Lutero e tornou possível também a renascença.
-- Ele não criou os caracteres móveis, como pensávamos antes, mas assim mesmo revolucionou a sua época ao criar novas tecnologias, ligas de chumbo e zinco, tintas para a impressão e merece mesmo o titulo de homem mais importante do milênio - afirma o historiador, citando o título a ele atribuído pela revista Time-Life, em 1997.
No Museu Suermond-Ludwig de Aachen, a cidade das letras móveis que inspiraram Gutenberg, acaba de ser aberta uma exposição dos relevos, como do primeiro "A" impresso em cerâmica. O tema da exposição é a arte dos "padeiros de imagens santas" que, na sua luta para abastecer os altares, terminaram descobrindo uma técnica que teve um papel decisivo no desenvolvimento da cultura humana.


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