quarta-feira, 19 de novembro de 2008

Estruturas feitas por índios indicam cultura complexa no Brasil pré-histórico

Povos que viviam no Brasil até oito mil anos atrás criaram os sambaquis.Existem provas de que a cultura viajou e trocou peças até no Uruguai.

Isis Nóbile Diniz Do G1, em São Paulo


Sambaqui localizado em Angra dos Reis. (Foto: Divulgação/CNPq)

No litoral brasileiro é comum encontrar montes formados por conchas, areias ou terra. Os cientistas em geral formaram a idéia de que esses montes seriam uma espécie de depósito de lixo composto, principalmente, por restos de comida dos povos antigos, como as conchas dos mariscos. Mas uma pesquisadora agora sugere que esses chamados sambaquis representavam uma cultura muito mais complexa. Além de meros “lixões”, os pesquisadores afirmavam que os sambaquis deveriam ser um espaço de moradia mais seco e arejado, livre de insetos e com uma visão estratégica da redondeza. “Durante muito tempo se estudou esses sítios arqueológicos de maneira simplista, com uma perspectiva teórica muito pobre”, diz a antropóloga Tania Andrade Lima, professora no Departamento de Antropologia do Museu Nacional da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e pesquisadora do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A pesquisadora sugere que esses habitantes, que viveram até oito mil anos atrás, eram mais do que caçadores e coletores de conchas. “Eles eram mais sedentarizados, o que proporcionou um grande crescimento populacional e possibilitou o emergir de uma sociedade diferenciada”, afirma.



Sítio arqueológico de sambaqui em Santa Catarina. (Foto: Divulgação/CNPq)

Isso significa que eles foram capazes de criar redes de difusão ideológicas de longo alcance. “Algumas peças, chamadas zoólitos, construídas em Santa Catarina, foram encontradas no Uruguai e vice-versa”, explica Lima. Isso mostrava que eles viajavam e levavam consigo objetos simbólicos. “Não é qualquer sociedade que faz isso”. De acordo com a pesquisadora, os sambaquis também poderiam ser símbolo de demonstração de poder. “Eram grandes monumentos como as pirâmides no Egito ou o World Trade Center nos Estados Unidos. A verticalidade de edifícios sugere que o homem que quer se tornar maior e mais forte”, diz. No interior dos sambaquis já foram encontrados vestígios de fogueiras; armas de caça e de pesca; ferramentas; restos alimentares; ossos de peixes, mamíferos, aves e répteis; e vegetais como coquinhos. Alguns sambaquis poderiam ser usados como moradia, grandes cemitérios, locais para rituais ou como habitação e sepultamento ao mesmo tempo. Todas essas são características exclusivas de sociedades agrícolas capazes de produzir excedentes. Pesquisadores recuperaram evidências de práticas rituais, como sepultamentos e oferendas. Em alguns deles, são encontradas esculturas feitas de pedra e de osso que, provavelmente, eram usadas em rituais. Contrastam com a simplicidade dos demais objetos.

Onde estão
Segundo a pesquisadora, os sambaquis são a base para entender a cultura e os hábitos das primeiras populações que povoaram a costa brasileira. Eles se localizam, principalmente, na região Sul do país. Tratam-se de sítios arqueológicos pré-históricos que podem alcançar 30 metros. O apogeu desses habitantes pode ter ocorrido em torno de quatro mil e três mil anos atrás, de acordo com datações radiocarbônicas. O declínio gradativo desse povo deve resultar de uma combinação de fatores. Entre eles está a coleta exagerada dos mariscos apreciados e consumidos com intensidade, o que inviabilizou sua reposição em número necessário. “Mas populações do interior do atual Brasil já dominavam a agricultura”, explica Lima. Elas poderiam ter alcançado a costa, no início da Era Cristã. Como eram economicamente mais fortes e organizadas -- por produzir o próprio alimento -- mudaram o modo de vida ou dizimaram quem vivia no litoral. Quando os europeus chegaram ao Brasil, há 500 anos, os povos que erguiam sambaquis não existiam mais.

Peças de rituais


Zoólito encontrado em sambaqui. (Foto: Divulgação/CNPq)

Os zoólitos aparecem com mais freqüência nos sambaquis localizados em Santa Catarina. São esculturas de animais feitas de pedra e osso. A cientista acredita que se trata de uma arte elaborada que requer indivíduos talentosos para a sua execução. Os zoólitos provavelmente não foram feitos por caçadores ou coletores. A distribuição de zoólitos sugere a existência de centros de produção no norte do estado de Santa Catarina, na região de Joinville e de Laguna. Ambas são áreas com alta concentração de sambaquis. Inclusive onde estão situados os montes de maior porte.

terça-feira, 11 de novembro de 2008

Egito diz ter encontrado pirâmide construída para antiga rainha

Construção foi localizada em areal ao sul da capital, Cairo, diz governo.Ela guardaria os restos mortais da rainha Sesheshet, mãe do rei Teti.

Da Reuters, em Saqqara


Arqueólogos egípcios descobriram uma pirâmide construída no deserto e que pertenceria à mãe de um faraó no poder mais de 4.000 anos atrás, disse na terça-feira (11) o chefe do Departamento de Antiguidades do país.A pirâmide, encontrada há cerca de dois meses em um areal localizado ao sul do Cairo, guardava provavelmente os restos mortais da rainha Sesheshet, mãe do rei Teti, que governou de 2323 a.C. a 2291 a.C. e que fundou a Sexta Dinastia do Egito, afirmou Zahi Hawass.


Arqueólogos trabalham próximo à base da pirâmide recém-descoberta em Saqqara, no Egito, nesta terça-feira (11). (Foto: AP)

"A única rainha cuja pirâmide não havia sido encontrada é Sesheshet, e é por isso que tenho certeza de que essa pirâmide pertencia a ela", disse a autoridade. "Isso enriquecerá o nosso conhecimento a respeito do Antigo Reinado."A Sexta Dinastia, uma época de conflitos dentro da família real do Egito e de erosão do poder centralizado, é considerada a última dinastia do Antigo Reinado, depois do qual a região passou por um período de falta de alimentos e de instabilidade social.Arqueólogos haviam descoberto antes, perto dali, as pirâmides pertencentes a duas das mulheres do rei, mas nunca tinham encontrado uma tumba pertencente a Sesheshet.A construção sem topo, de 5 metros de altura, chegava originalmente a 14 metros, com laterais de 22 metros de comprimento, afirmou Hawass.A pirâmide, que seria a 118a a ser encontrada no Egito, segundo Hawass, havia sido escavada perto da pirâmide mais antiga do mundo, em Saqqara, uma área tumular para os antigos imperadores da região."Essa pode ser a mais completa pirâmide subsidiária a ser encontrada em Saqqara", afirmou Hawass.O monumento seria originalmente recoberto por pedras calcárias trazidas de uma mina a céu aberto existente em Tura, nas cercanias de Saqqara, disse a autoridade.Os arqueólogos pretendem entrar na câmara sepulcral da pirâmide dentro de duas semanas. A maior parte dos objetos presentes ali, no entanto, já deve ter sido roubada, afirmou Hawass.Alguns artefatos, entre os quais uma estátua de madeira do antigo deus egípcio Anúbis e figuras funerárias de datas posteriores, indicam que o cemitério havia sido reutilizado na época romana, disse a autoridade.

Brinco 'de 2 mil anos' é encontrado em Jerusalém

Autoridades dizem que a peça está 'incrivelmente bem preservada'.Brinco foi achado durante escavações em ruínas do período Bizantino.

Da Associated Press




Imagem liberada pela Autoridade Israelense de Antiguidades mostra o brinco que os arqueologistas dizem ter cerca de 2 mil anos encontrado em um campo de escavações de Jerusalém (Foto: AP)



Autoridades informaram que o brinco tem pérolas e esmeraldas e que deve ter sido produzido entre o primeiro século antes de Cristo e o começo do quarto século depois de Cristo (Foto: AP)

quinta-feira, 6 de novembro de 2008

Escavações podem confirmar existência histórica de 'minas do rei Salomão'

Extração industrial de cobre na Jordânia é contemporânea do monarca.Mineração seria feita por reino vassalo; especialista contesta estudo.

Reinaldo José Lopes Do G1, em São Paulo

A velha briga para determinar o que é fato e o que é lenda nos textos bíblicos acaba de passar por mais uma reviravolta -- e quem saiu ganhando foi o glorioso reino de Salomão, filho de Davi, que teria governado os israelitas há 3.000 anos. Escavações na Jordânia sugerem que a extração de cobre em escala industrial no antigo reino de Edom -- região que, segundo a Bíblia, teria sido vassala dos reis de Israel -- coincide, em seu auge, com a época do filho de Davi. Em outras palavras: as célebres "minas do rei Salomão" podem ter existido do outro lado do rio Jordão.

Rejeitos da extração de cobre têm 6 m de comprimento (Foto: T.E. Levy)


A pesquisa, coordenada pelo arqueólogo Thomas E. Levy, da Universidade da Califórnia em San Diego, está na edição desta semana da prestigiosa revista científica americana "PNAS" , e bate de frente com os que duvidam da existência de uma monarquia poderosa em Jerusalém durante o século 10 a.C. Segundo esses pesquisadores, como Israel Finkelstein, da Universidade de Tel Aviv, tanto a região de Jerusalém quanto a área de Edom, onde as minas foram encontradas, eram habitadas por uns poucos aldeões e pastores nômades nessa época. O surgimento de reinos politicamente bem organizados e capazes de empreendimentos de larga escala só teria sido possível por ali cerca de 200 anos depois.

Levy discorda. "O que nós mostramos de forma definitiva é a produção de metal em larga escala e a presença de sociedades complexas, que podemos chamar de reino ou Estado arcaico, nos séculos 10 a.C. e 9 a.C. em Edom. Trabalhos anteriores afirmavam que o que a Bíblia dizia a respeito disso era um mito. Nossos dados simplesmente mostram que a história de Edom no começo da Idade do Ferro precisa ser reinvestigada usando ferramentas científicas", declarou o arqueólogo ao G1.

Cobre a dar com o pau
A região escavada por Levy e seus colegas na Jordânia é uma velha suspeita de ter abrigado as famosas minas salomônicas. Nos anos 1940, o arqueólogo americano Nelson Glueck já tinha defendido a idéia. No entanto, foi só com as escavações em larga escala no sítio de Khirbat en-Nahas (em árabe, "as ruínas de cobre"), ao sul do mar Morto, que o tamanho da atividade mineradora ali ficou claro. Estima-se que, só em sobras da extração do minério, existam no local entre 50 mil e 60 mil toneladas de detritos.

Numa escavação iniciada em 2006, Levy e seus colegas desceram pouco mais de 6 m e montaram um quadro em alta resolução da história de Khirbat en-Nahas. A ocupação começa com uma estrutura retangular de pedra, com protuberâncias ou "chifres". "Pode ter sido um altar", conta o arqueólogo -- esses "chifres" eram usados como plataforma para besuntar o sangue dos animais sacrificados na antiga Palestina. Acima dessa estrutura, ao menos duas grandes fases de extração de cobre estão documentadas, com paredes de pedra que serviam como instalação industrial.







Vista aérea do sítio de Khirbat en-Nahas, com antiga fortaleza em formato quadrado abaixo, no centro (Foto: UCSD Levantine Archaeology Laboratory)




Uma das formas de datar a atividade mineradora é a presença de artefatos egípcios -- um escaravelho e um colar -- que aparentemente datam da época dos faraós Siamun e Shesonq (chamado de Sisac na Bíblia) -- o século 10 a.C. Mas os pesquisadores também usaram o método do carbono-14 para estimar diretamente a idade de restos de madeira usados para derreter o minério e extrair o cobre. O veredicto? O mais provável é que a atividade industrial na área tenha começado em 950 a.C., data equivalente ao auge do reinado de Salomão, e terminado em torno de 840 a.C.

E não é só isso: escavações numa fortaleza próxima também sugerem uma construção na era salomônica, durante o século 10 a.C. Segundo o relato bíblico, Salomão usou vastas quantidades de bronze (cuja matéria-prima, ao lado do estanho, era o cobre) na construção do templo de Jerusalém. Também teria continuado o domínio estabelecido por seu pai Davi sobre Edom e financiado uma frota de navios mercantes que saíam do litoral edomita em busca de produtos de luxo.

Levy diz que os dados obtidos em Khirbat en-Nahas são compatíveis com o quadro do Antigo Testamento, mas mostra cautela. "Se as atividades lá podem ser atribuídas ao controle da produção de metal pela Monarquia Unida israelita, pelos edomitas ou por uma combinação de ambos, ou até por um outro grupo, é algo que nossa equipe na Jordânia ainda está investigando", ressalta ele.

Ilusão?
A pedido do G1, o arqueólogo Israel Finkelstein comentou o estudo na "PNAS" e fez pesadas críticas. Para começar, Finkelstein não reconhece a região de Khirbat en-Nahas como parte do antigo reino de Edom, porque o sítio fica nas terras baixas jordanianas, e não no planalto do além-Jordão.




Pesquisadores reconstruíram lugar em realidade virtual para localizar amostras de forma precisa (Foto: Pinar Istek/UC San Diego-Calit2)

"Na época em que Nahas está ativa, não há um único sítio arqueológico no platô de Edom, que só passa a ser ocupado nos séculos 8 a.C. e 7 a.C.", diz o pesquisador israelense. "A mineração em Nahas não tem a ver com o povoamento de Edom, mas com o do vale de Bersabéia [parte do reino israelita de Judá], que fica a oeste, ao longo das estradas pelas quais o cobre era transportado até o Mediterrâneo", afirma.

Finkelstein também critica o fato de Levy e seus colegas teram usado os rejeitos de mineração como base para sua estratigrafia, ou seja, as camadas que ajudam a datar o sítio arqueológico, porque eles formariam estratos naturalmente "bagunçados" de terra. E afirma que a fortaleza estudada pelos pesquisadores também é posterior ao século 10 a.C.

"Aceitar literalmente a descrição bíblica do rei Salomão equivale a ignorar dois séculos de pesquisa bíblica. Embora possa existir algum fundo histórico nesse material, grande parte dele reflete a ideologia e a teologia da época em que saiu da tradição oral e foi escrito, por volta dos séculos 8 a.C. e 7 a.C. Os dados de Nahas são importantes, mas não vejo ligação entre eles e o material bíblico sobre Salomão", arremata Finkelstein.

Levy preferiu não responder diretamente as críticas do israelense, embora um artigo anterior de sua lavra aponte que, ao contrário do que diz Finkelstein, há ligação cultural entre os habitantes das terras baixas e os edomitas do planalto. "Suponho que, toda vez que há uma interface entre textos sagrados e dados arqueológicos, é natural que o debate se torne emocional", diz ele.

segunda-feira, 3 de novembro de 2008

Descoberta de cidade antiga pode alterar imagem de Davi bíblico

KHIRBET QEIYAFA, Israel - Perto do verde vale de Elah, onde a Bíblia diz que Davi venceu Golias, arqueólogos descobriram uma cidade fortificada de 3 mil anos que pode mudar a percepção do período em que ele liderou os israelenses. Cinco camadas de argila cobriam o que parece ser o texto hebraico mais antigo já encontrado e pode ter enorme impacto no que se sabe sobre a história da escrita e o desenvolvimento do alfabeto.
A área de cinco acres, com seus fortes, casas e portões, também será uma arma no politizado debate sobre Davi e sua capital, Jerusalém, terem sido um reino importante ou uma tribo pequena, uma questão que divide não apenas os estudiosos mas aqueles que buscam desligitimar o sionismo.
Até o momento apenas uma pequena parcela da área foi escavada e nenhuma descoberta foi divulgada ou totalmente analisada. A escavação, liderada por Yosef Garfinkel da Universidade Hebraica de Jerusalém, já causa furor entre seus colegas bem como ansiedade entre aqueles que usam a Bíblia como um guia da história e confirmação de fé.



Fortificações descobertas por arqueólogos / AP

"Este é um tipo de lugar que subitamente abre uma janela para uma área da qual não sabíamos quase nada e ele exige que repensemos o que aconteceu naquele período", disse Aren M. Maeir, professor de arqueologia da Universidade Bar-Ilan e diretor de outra escavação na região. "Essa é uma descoberta única". O período de 10 a.C. é o mais controverso na arqueologia bíblica porque foi ali que, de acordo com o Velho Testamento, Davi uniu os reinos de Judá e Israel, abrindo caminho para que seu filho Salomão construísse seu grande templo e comandasse um enorme império entre os rios Nilo e Eufrates. Para muitos judeus e cristãos, mesmo aqueles que não levam a Escritura ao pé da letra, a Bíblia é uma fonte histórica vital. Para o Estado de Israel, que considera a si mesmo como descendente do reino de Davi, evidências que atestem as histórias bíblicas têm um enorme valor. O website do Ministério do Exterior, por exemplo, apresenta o reino de Davi e Salomão em um mapa como se fossem fatos comprovados.
No entanto, os dados arqueológicos de tal reino são escassos (quaseinexistentes) e inúmeros estudiosos de hoje argumentam que ele não passou de um mito criado séculos depois. Uma grande potência, segundo eles, teria deixado rastros de cidades e atividades, além de ser mencionado por outros. Ainda assim, nada disso aconteceu na região - pelo menos até agora. Garfinkel afirma ter achado algo que muitas gerações buscaram. Ele fez duas apresentações informais no mês passado a colegas arqueólogos.Nesta quinta-feira, ele fará uma leitura formal durante uma conferência em Jerusalém.
Descobertas testadas O que ele encontrou até então impressiona. Dois potes de azeitonas encontrados foram testados para carbono-14 na Universidade de Oxford e datados entre 1050 e 970 a.C., exatamente no período que a maioria das histórias diz que Davi se tornou rei. Outros dois estão sendo testados.


Vista aérea mostra escavações na região de Khirbet Qeiyafa / AP

O especialista em línguas semíticas antigas, Haggai Misgav, afirma que a escrita sobre argila com carvão e gordura animal como tinta foi elaborada no chamado proto-Canaanite e parece ser uma carta ou um documento em hebraico, sugerindo que a alfabetização pode ter sido mais comum do que se imaginava.
Isso pode ter um papel na disputa sobre a Bíblia, uma vez que caso outros escritos apareçam irão sugerir que existia a tradição do registro de eventos que eram passados para a frente séculos antes do que se acredita que a Bíblia tenha sido escrita. Outro motivo que torna este local promissor é o fato de ter sido usado por um curto período de tempo, talvez 20 anos, e então destruído - Garfinkel especula que em uma batalha com os filisteus - e abandonado por séculos, selando as descobertas com uma uniformidade similar a de Pompéia. A maioria dos sítios são feitos de camadas de períodos diferentes, nas quais inevitavelmente há uma mistura, tornando difícil a definição da data exata dos artefatos encontrados.

Por ETHAN BRONNER

Arqueólogo diz ter encontrado o mais antigo texto hebraico

Um arqueólogo israelense, trabalhando numa colina ao sul de Jerusalém, acredita que um fragmento de cerâmica descoberto nas ruínas de uma antiga cidade contém a mais antiga inscrição em hebraico já vista, uma descoberta que poderá abrir uma importante janela para a cultura e a língua nos tempos bíblicos.

As cinco linhas, escritas há 3 mil anos, e as ruínas da fortaleza onde o fragmento foi encontrado são sinais de que um poderoso reino existia no tempo do rei Davi, disse Yossi Garfinkel, o arqueólogo encarregado da escavação em Hirbet Qeiyafa.

Outros especialistas relutam em aceitar a interpretação de Garfinkel para os achados, reveladas nesta quinta-feira, 30. As descobertas já tomam parte em um debate acalorado sobre a fidelidade da narrativa bíblica aos fatos históricos.Hirbet Qeiyafa localiza-se perto da cidade israelense contemporânea de Beit Shemesh, uma área que um doa marcou a fronteira entre os israelitas e seus inimigos, os filisteus.

O local fica sobre o vale de Elah, descrito como o local do duelo entre Davi e Golias, fica perto das ruínas da cidade natal de Golias, a metrópole filistéia de Gath.Um voluntário adolescente descobriu o fragmento recurvado de cerâmica, um quadrado de 15 centímetros, em julho. mais tarde, descobriu-se que a inscrição traz caracteres de proto-cananita, um precursor do alfabeto hebraico.

Análises de carbono 14 de material queimado encontrado na mesma camada de solo datam o fragmento de entre 1000 e 975 a.C., mesmo período descrito na Bíblia como o apogeu do reino de Davi.Outros pequenos fragmentos de escrita hebraica do século 10 a.C., mas a nova inscrição, que Garfinkel sugere que pode ser parte de uma carta, antecede a inscrição significativa seguinte por cerca de 150 anos.

Os textos hebraicos históricos mais famosos, os Manuscritos do Mar Morto, começaram a ser transcritos em pergaminho 850 anos mais tarde.O fragmento agora é mantido num cofre de universidade, onde filólogos tentam traduzi-lo, um trabalho que poderá consumir meses. Mas diversas palavras já foram identificadas, incluindo algumas que, acredita-se, significam "juiz", "escravo" e "rei".Os israelitas não eram o único povo a usar o alfabeto proto-cananita, e outros especialistas acreditam ser difícil - talvez impossível - concluir que o texto é hebraico e não uma língua aparentada. Garfinkel baseia sua identificação num verbo de três letras, significando "fazer", que segundo ele era exclusivo do hebraico.

O arqueólogo Amihai Mazar, da Universidade Hebraica, diz que a inscrição é "muito importante", por representar o mais longo trecho de proto-cananita já encontrado, mas ele diz que chamar a língua de hebraico é ir longe demais.

"A diferenciação entre as línguas nesse período continua pouco clara".Muitos estudiosos e arqueólogos defendem a idéia de que o relato bíblico do tempo de Davi exagera a importância tanto do monarca quanto de seu reino, e é basicamente um mito.Mas se a alegação de Garfinkel for comprovada, isso seria um sinal de que os israelitas teriam sido capazes de registrar a história enquanto ela acontecia, dando aos redatores da Bíblia uma fonte histórica para basear seus relatos, escritos séculos mais tarde.

Isso também significaria que os ocupantes da fortaleza onde o texto foi descoberto eram israelitas, o que ainda não foi estabelecido.

(Fonte: Estadao.com.br)
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