sábado, 20 de outubro de 2007

Tradições Celtas na Arqueoastronomia

(por : Leila Ossola)



Quando olhamos para a história dos povos antigos, sempre nos deparamos com sua ligação no mundo da Astronomia. Seja como uso em apenas observatórios astronômicos, que poderiam marcar dias, noites, estações do ano e localização geográfica em relação às demais civilizações ou como épocas de rituais.

Entre tais civilizações, destacamos aqui os Celtas e suas Fogueiras representativas do Ciclo de Estações. Não desejamos aqui entrar no mérito religioso do assunto, porém, ele precisa ser explicado para melhor entendimento sobre como os astros celestes influenciaram o povo Celta.

Os celtas atingiram no século IV aC o auge de sua expansão em número de habitantes e área ocupada. Não deixaram qualquer obra escrita sobre seus feitos, entretanto, a literatura dos celtas insulares, notadamente na Irlanda e no País de Gales, nos fornece informações valiosas sobre seus mitos e suas práticas cerimoniais.



A sociedade Celta era Matrifocal, isto é, o nome e os bens da família eram passados de mãe para filha. Homens e mulheres tinham os mesmos direitos, sendo a mulher respeitada como Sacerdotisa, mãe, esposa e guerreira. O culto da Grande Mãe e do Deus Cornífero predominaram nas regiões da Europa dominadas pelos Celtas até a chegada dos romanos, que praticamente dizimaram as tribos Celtas, que nessa época já estavam sendo dominadas pelos Druidas (classe sacerdotal celta - a palavra druida deriva de um radical DR que significa uma árvore, especialmente o carvalho), introduzindo assim o patriarcalismo.


Porém, em muitos lugares, a religião da Grande Mãe continuou a ser praticada, pois havia certa tolerância por parte dos romanos. Somente na Idade Média, que o paganismo foi relegado às sombras com o domínio da Igreja Católica e a criação da Inquisição, cujo objetivo era eliminar de vez as antigas crenças, que eram uma ameaça a um clero muito mais preocupado em acumular bens e riquezas do que a propagar a verdadeira mensagem de Jesus.

Durante o tempo das fogueiras, muitos dos conhecimentos passaram a ser transmitidos oralmente, por medida de segurança, e, assim, muito se perdeu. Mas, o que eram essas “fogueiras” e que datas eram celebradas nelas? Acompanhavam tais fogueiras os movimentos dos astros celestes em especial o sol e a lua já que tais astros celestes assim como os pontos cardeais eram utilizados por estes e outros povos?


No passado, quando as pessoas vivam em conjunto com a natureza, o passar das estações e os ciclos lunares tinham um profundo impacto em cerimônias religiosas. A lua era vista como um símbolo divino, por isso as cerimônias de adoração, magias e celebrações eram feitas sob sua luz.

A chegada do inverno , as primeiras atividades da primavera, o quente verão e a entrada do outono também eram marcados por rituais. Na tradição do paganismo, o calendário religioso possui treze celebrações de lua cheia e oito dias de poder (Sabbaths). Quatro desses dias são determinados pelos solstícios e equinócios, que são o início astronômico das estações. Os outros quatros rituais baseiam-se em antigos festivais folclóricos.


Ainda encontramos três formas da antiga religião em tempos recentes. A primeira é a celebração do antigo festival solar ou agrícola dos equinócios da primavera e do outono e dos solstícios de verão e inverno. A segunda, é a prática de um sacrifício humano simbólico por aqueles que esqueceram seu significado acrescentados a sacrifícios de animais para evitar a peste do gado ou reverter a má sorte e a terceira, consiste em relíquias vivas através da veneração das águas, árvores, pedras e animais sagrados.

Convém lembrar, que qualquer que possa ter sido o significado dos cultos celtas, parece não haver dúvidas que eram centrados em torno dos quatro grandes dias do ano que marcam o despontar, o progresso e o declínio do sol e dos frutos da terra.



Beltaine caía no início de maio; dia 24 de junho marcava o triunfo do brilho do sol e da vegetação; o Banquete de Lugh em agosto era o ponto crucial do curso do sol que tinha sido alcançado e Samain quando ele dá adeus ao poder e cai de novo por meio ano sob o domínio das forças malignas do inverno e das trevas. Desses grandes períodos solares, o primeiro e o último eram naturalmente os mais importantes já que toda a mitologia celta parece revolver-se sobre eles. Por exemplo, segundo a mitologia celta, em 24 de junho – um dos mais baixos pontos solares – o povo da deusa Dana tomou a Irlanda dos seus habitantes (os Fir Bolgs) .

Nos festivais ou períodos de comemorações celtas, fogueiras são acesas nas mais altas colinas e o fogo das lareiras são solenemente reacesos constituindo pretexto para muito esporte e alegria. Abaixo, relembramos alguns festivais.

YULE - 21 de Junho(hemisfério sul) / 21 de Dezembro(hemisfério norte)


Também conhecido como Solstício de Inverno, a noite mais longa do ano. É desta data antiga que se originou o Natal cristão. Na mitologia celta, a Deusa dá à luz o deus, que é reverenciado como criança prometida. No hemisfério norte o Yule é comemorado na mesma época do Natal e tem significado muito parecido com o feriado cristão: o nascimento do Deus menino. O hábito de trazer pinheiros para dentro de casa é um hábito totalmente pagão. O pinheiro, azevinho e outros são árvores cujas folhas são perenes e estão sempre verdes, simbolizando a continuação da vida. As árvores eram sagradas e os meses do ano tinham nomes de árvores. Os sinos são símbolos femininos de fertilidade e anunciam os espíritos que possam estar presentes.

IMBOLC ou CANDLEMAS - 01 de Agosto(hemisfério sul) / 01 de Fevereiro(hemisfério norte)


Este Sabbath é dedicado à Deusa Brigit, senhora da poesia, da inspiração, da cura, da escrita, da metalurgia, das artes marciais e do fogo. Esse é o também chamado Festival das Luzes, em que se acendem velas por toda a casa, mais especialmente nas janelas, para anunciar a vinda do sol e mostrar ao menino Deus seu caminho.

OSTARA - 21 de Setembro(hemisfério . sul) / 21 de Março(hemisfério norte)
Este é o equinócio da primavera, onde a duração do dia e a noite se fazem iguais, é portanto uma data de equilíbrio e reflexão. Ostara é o Festival em homenagem à Deusa Oster, senhora da fertilidade, cujo símbolo é o coelho. Foi desse antigo festival que teve origem a Páscoa.
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BELTANE - A FOGUEIRA DE BELENOS - 01 de Novembro(hemisfério . sul) / 01 de Maio(hemisfério. norte)
Beltane é o mais alegre e festivo de todos os Sabbaths. O Deus, que agora é um jovem no auge da sua fertilidade, se apaixona pela Deusa, que em Beltane se apresenta como a Virgem e é chamada "Rainha de Maio". Em Beltane se comemora esse amor que deu origem a todas as coisas do universo. Beleno é a face radiante do Sol, que voltou ao mundo na Primavera. Em Beltane se acendem duas fogueiras, pois é costume passar entre elas para se livrar de todas as doenças e energias negativas. Nos tempos antigos, costumava-se passar o gado e os animais domésticos entre as fogueiras com a mesma finalidade. Daí veio o costume de "pular a fogueira" nas festas juninas. Uma das mais belas tradições de Beltane é o MAYPOLE, ou MASTRO DE FITAS. Trata-se de um mastro enfeitado com fitas coloridas. Durante um ritual, cada membro escolhe uma fita de sua cor preferida ou ligada a um desejo. Todos devem girar trançando as fitas, como se estivessem tecendo seu próprio destino, colocando-os sob a proteção dos Deuses. É costume pagão jamais se casar em Maio, pois esse mês é dedicado ao casamento do Deus e da Deusa.

MIDSUMMER - LITHA - 21 de Dezembro(hemisfério . sul) / 21 de Junho(hemisfério norte)


Nesse dia o Sol atingiu a sua plenitude. É o dia mais longo do ano (solstício de verão). O deus chega ao ponto máximo de seu poder. Na noite de Midsummer, fadas, duendes e toda a sorte dos elementais correm pela Terra, celebrando o fervor da vida. É hora de pedirmos coragem, energia e saúde. Nos tempos antigos, a data era comemorada com jogos e festivais, onde o corpo e o físico eram reverenciados.

LAMAS - LUGHNASADH - 01 de fevereiro(hemisfério. sul) / 01 de Agosto(hemisfério norte)

Lughnasad era tipicamente uma festa agrícola, onde se agradecia pela primeira colheita do ano. Lugh é o Deus Sol. Na Mitologia Celta, ele é o maior dos guerreiros, que derrotou os Gigantes, que exigiam sacrifícios humanos do povo. A tradição pede que sejam feitos bonecos com espigas de milho ou ramos de trigo representando os Deuses, que nesse festival são chamados Senhor e Senhora do Milho. Nessa data deve-se agradecer a tudo o que colhemos durante o ano, sejam coisas boas ou más, pois até mesmo os problemas são veículos para a nossa evolução. O outro nome do Sabbath é Lammas, que significa "A Massa de Lugh". Isso se deve ao costume de se colher os primeiros grãos e fazer um pão que era dividido entre todos.

MABON - 21 de Março(hemisfério sul) / 21 de Setembro(hemisfério norte)


Este é o equinócio de outono. No Panteão Celta, Mabon, também conhecido como Angus, era o Deus do Amor. Nessa noite devemos pedir harmonia no amor e proteção para as pessoas que amamos. Esta é a segunda colheita do ano. Este é o Festival em que devemos pedir pelos que estão doentes e pelas pessoas mais velhas que precisam de nossa ajuda e conforto. Também é nesse festival que homenageamos as nossas antepassadas femininas.

SAMHAIN - HALLOWEEN - 30 de Abril(hem. sul) / 31 de Outubro(hem. norte)


Este , marca tanto o fim quanto o início de um novo ano. O sentido do Halloween é nos sintonizarmos com os que já partiram para lhes enviar mensagens de amor e harmonia. A noite do Samhain é uma noite de alegria e festa, pois marca o início de um novo período em nossas vidas, sendo comemorado com muito ponche, bolos e doces, além de muitas brincadeiras, danças e músicas. Antigamente, as pessoas colocavam abóboras na janela para espantar os maus espíritos e os duendes que vagavam pelas noites do Samhain. Essa palavra significa "Sem Luz", pois, nessa noite, o Deus morreu e o mundo mergulha na escuridão. A Deusa vai ao Mundo das Sombras em busca do seu amado, que está esperando para nascer. Eles se amam, e, desse amor, a semente da luz espera no Útero da Mãe, para renascer no próximo Solstício de Inverno como a Criança da Promessa.


O artigo, deseja passar para os leitores os costumes místicos do povo celta, perpetuado em algumas civilizações modernas, mas também enfoca o passar das estações e a forma de contar os dias a partir do sol e da lua, sagrados para a maioria dos povos antigos.



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