quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Tumba de sacerdotisa no Peru revela poder de mulheres há 1.200 anos

Restos mortais são da 8ª líder religiosa vista em mais de 20 anos no país.
Ao lado do corpo, foram achados cinco crianças e dois adultos sacrificados.

Da France Presse
 

Um dos dois esqueletos encontrados em uma câmara funerária da civilização pré-incaica Moche (que viveu entre 200 e 700 anos d.C.), no complexo religioso Cao, perto da cidade de Trujillo, a cerca de 700 km ao norte de Lima (Foto: Douglas Suares/STR/AFP) 
 
Um dos esqueletos achados em câmara funerária da cultura Moche (que viveu entre 200 e 700 anos d.C.),  no complexo religioso Cao, perto de Trujillo, 700 km ao norte de Lima (Foto: Douglas Suares/STR/AFP)
 
A descoberta de uma nova tumba de uma sacerdotisa pré-hispânica no norte do Peru confirma que mulheres poderosas governaram a região há 1.200 anos, segundo arqueólogos de um projeto na localidade de San José de Moro, na província de Chepén, no norte do país. Esses são os restos mortais da oitava líder religiosa encontrada em mais de duas décadas de pesquisas.

Os ossos dessa mulher, pertencente à cultura Moche ou Mochica, que dominou o Peru entre 200 e 700 d.C., foram identificados no final de julho, entre as cidades de Trujillo e Chiclayo, e somam-se a outras descobertas surpreendentes já feitas no local.

A evidência de mulheres governantes nessa região do departamento de La Libertad vem assombrando os cientistas. Em 2006, no distrito de Magdalena de Cao, foi achada a famosa "Senhora de Cao", considerada uma das primeiras mulheres governantes do Peru, que morreu há 1.700 anos.

"Essa descoberta deixa claro que naquela região as mulheres não apenas chefiavam rituais, mas eram as 
rainhas da sociedade Mochica", disse à AFP Luis Jaime Castillo, diretor do projeto San José de Moro.
"(Até agora) Só encontramos tumbas de mulheres nas escavações, nunca de homens', acrescentou.

A sacerdotisa estava em uma imponente câmara funerária de 1.200 anos de idade, explicou o arqueólogo, que destacou que os Mochica eram conhecidos como mestres artesãos e grandes construtores de cidades de barro.

"A câmara funerária da sacerdotisa é de barro em forma de L e estava coberta com placas de cobre em forma de ondas e aves marinhas. Perto de seu pescoço, estavam uma máscara e uma faca (cerimonial chamada Tumi)", explicou Castillo.

A tumba, pintada com desenhos nas cores amarela e vermelha, também tinha nos lados cerca de dez nichos repletos de oferendas de cerâmica de tamanhos variados, na maioria vasilhas.

"Acompanhavam a sacerdotisa o corpo de cinco crianças (entre elas, dois bebês) e dois adultos, todos sacrificados", afirmou Castillo, após indicar que na parte superior do caixão estavam dois penachos que representam uma ave pescadora descendo num mergulho.

A câmara funerária foi desenhada com uma entrada e nela foi montada uma exposição de peças colocadas ordenadamente, possivelmente cumprindo uma função, acrescentou o arqueólogo.

Cemitério de elite
O arqueólogo responsável pelos trabalhos na câmara funerária, Julio Saldaña, disse que a descoberta da tumba confirma que a localidade de San José de Moro é um cemitério da elite Mochica e que as tumbas mais ricas pertencem às mulheres.

"Estamos diante de um lugar dedicado ao culto aos ancestrais, em cuja periferia os súditos mochicas deixaram evidências múltiplas, como cântaros de tamanhos diferentes e cozinhas para a elaboração de chicha (bebida originária do Peru à base de milho)", disse.

No enxoval funerário da sacerdotisa, também foi encontrada uma finíssima peça de cerâmica policromática, desenhada com imagens mochicas, na qual foi colocada uma coroa de prata e cobre dourado, em forma de penacho, situada na altura da cabeça dessa representante da elite.

Debaixo do corpo da mulher, ainda havia uma fina camada de areia e, na altura da cintura, foi encontrada uma taça cerimonial e peças de tamanho regular de Spondylus (conchas usadas pela nobreza na época pré-hispânica), em cada uma das mãos da mulher. Também foram encontradas oferendas na altura dos pés.

Castillo informou que, assim que forem levantados todos os restos e objetos, eles serão levados para um laboratório onde serão estudados. Depois, os pesquisadores tentarão obter apoio financeiro para a construção de um museu.
Esqueleto encontrado em câmara funerária no Peru (Foto: Douglas Suares/STR/AFP) 
Esqueletos, placas de cobre e cerâmicas achados em câmara funerária
 (Foto: Douglas Suares/STR/AFP)
 
 
Típica cerâmica Moche descoberta na câmara funerária de 1.200 anos (Foto: Douglas Suares/STR/AFP) 
Típica cerâmica Moche descoberta na câmara funerária de 1.200 anos 
(Foto: Douglas Suares/STR/AFP)
 
 
Pintura de parede ao ar livre feita perto da câmara funerária (Foto: Douglas Suares/STR/AFP) 
Pintura de parede ao ar livre da cultura Moche feita perto da tumba (Foto: Douglas Suares/STR/AFP)
 

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