Selo dourado ligado ao culto de Seth foi achado perto de Nazaré.
'O selo é uma das peças mais importantes', disse arqueólogo Ron Baerei.
Escavada no famoso vale dos Reis, em Luxor, o túmulo de Seti I diz não
apenas que ele foi o pai do célebre Ramsés II, mas também um poderoso
faraó-guerreiro que teve um papel fundamental na pacificação do Nilo e
na restauração do império.
Selo
dourado em forma de besouro - ligado ao culto de Seth, o deus egípcio
da guerra - foi encontrado no vale de Yizre'el, a poucos quilômetros ao
sul da cidade de Nazaré
(Foto: Israel’s Antiquities Authority/AP)
Ex-sacerdote de Amon, soldado do exército de Horembeb e capitão durante
o reinado de seu progenitor, Ramsés I, ele acabou com o ainda influente
poder dos sacerdotes de Aquenáton e recuperou grandes áreas
territoriais.
Arqueólogos israelenses documentaram recentemente, no entanto, que sua
autoridade e a profundidade de suas conquistas em Canaã e Galileia
chegou, provavelmente, mais ao norte do que tinha sido provado até o
momento.
Sob metros de terra, e quebrado em pedaços, um sarcófago da idade de
Bronze com um selo dourado em forma de besouro - ligado ao culto de
Seth, o deus egípcio da guerra - foi encontrado no vale de Yizre'el, a
poucos quilômetros ao sul da cidade de Nazaré.
"É uma caixa de argila cilíndrica com tampa antropomorfa e estava
cercada de vasilhas, copos, pratos e ossos de animais", em uma
disposição similar aos enterros de nobres egípcios, que eram preparados
para a passagem à outra vida, explicou o cientista Ron Baerei, um dos
chefes da escavação.
Dentro do sarcófago havia um esqueleto de um homem adulto com uma
adaga, entre outras peças, e o citado selo administrativo, que indica
que ele era de alta classe, provavelmente morador da região e a serviço
da XIX dinastia.
"O selo é uma das peças mais importantes, porque liga o morto ao poder", explicou.
Além disso, os egípcios costumavam enterrar seus mortos em sua pátria, e
não cercados de divindades cananeias, argumentam Baerei e sua equipe,
que datam este enterro por volta do ano 1300 antes de Cristo.
"Em um dos lados do sarcófago há uma figura de um homem com penteado
egípcio, e como nos sarcófagos dos faraós egípcios, com as mãos cruzadas
sobre o peito", explicou o especialista.
Os restos mortais mostram "uma profunda influência da cultura egípcia
na terra de Israel durante o segundo milênio antes de Cristo,
provavelmente através da sociedade cananeia ou das cidades cananeias do
vale de Yizre'el", concluiu.
A descoberta é relevante por pelo menos mais dois motivos: é o primeiro
sarcófago com estas características a ser desenterrado em Israel
nos últimos 50 anos e confirma o vale de Yizre'el como a rota que os
egípcios utilizavam para se comunicar com suas colônias na Síria.
Foram achados alguns túmulos de um período similar em cidades
setentrionais como Beit Shean, e meridionais como Tel al-Farah e Deir
al-Balah, na atual Gaza, mas nunca tão ao norte e não com um desenho
cananeu tão particular.
De fato, foi nesta última região, agora sob controle palestino e
assédio israelense, que os egípcios estabeleceram a administração geral
das terras conquistadas entre o Sinai e a Síria.
O caso serve, além disso, como uma nova confirmação do relato das
Escrituras Hebraicas: dado que Seti I governou entre 1290 e 1279 antes
de Cristo, eruditos associam sua figura com o pai do faraó que enviou os
judeus para o exílio no deserto.
Algumas teorias alegam que, durante o primeiro ano de seu reinado, ele
enviou uma expedição militar para reconquistar a terra de Canaã que
alcançou a cidade de Beit Shean, situada ao sul do lago Tiberíades ou
mar da Galileia.
A parte negativa é que os arqueólogos acreditam que pode haver muito
mais restos mortais - provavelmente com a mesma relevância - ocultos na
mesma área, que agora não vão poder ser recuperados.
A equipe de Baerei só foi chamada para fazer uma "operação de
salvamento" depois que operários que trabalham na instalação de um
gasoduto próximo ao kibutz de Sarid, situado a cerca de 15 quilômetros
ao sul de Nazaré, informaram sobre a descoberta do que pareciam restos
históricos.
Agora ela considera que, debaixo daquelas encostas, perto do monte Tel
Shadud e junto a outros quatro túmulos desenterrados - acredita-se que
todos eram da mesma família - estejam outros restos da era de Seti I,
que ficarão escondidos para sempre em meio ao encanamento do gasoduto.
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