Acredita-se que fragmento seja proveniente do Egito.
Historiadora diz que análises não provam que Jesus era casado.
Inscrição antiga feita em papiro pode sinalizar que Jesus Cristo tinha esposa
(Foto: AP Photo/Harvard University, Karen L. King)
Um pedaço de papiro antigo que contém uma menção à esposa de Jesus não é
uma falsificação, de acordo com uma análise científica do controverso
texto, declararam nesta quinta-feira (10) pesquisadores americanos.
Acredita-se que o fragmento seja proveniente do Egito Antigo, pois
contém escritos na língua copta (extinta no século XVII), que afirmam:
"Jesus disse-lhes: 'Minha esposa...'''. Outra parte diz ainda: "Ela
poderá ser minha discípula".
A descoberta do papiro, em 2012, provocou polêmica. Pelo fato de a
tradição cristã afirmar que Jesus não era casado, o documento reacendeu
os debates sobre o celibato e o papel das mulheres na Igreja.
O jornal do Vaticano "L'Osservatore Romano" declarou na época que o
papiro era uma farsa, juntamente com outros estudiosos que duvidaram de
sua autenticidade baseando-se em sua gramática pobre, texto borrado e
origem incerta.
Nunca antes um evangelho se referiu a Jesus como casado ou tendo
mulheres como discípulos. Mas uma nova análise científica do papiro e da
tinta, bem como da escrita e da gramática, mostrou que o documento é
antigo.
"Nenhuma evidência de fabricação moderna ("falsificação") foi
encontrada", declarou a Harvard Divinity School, da Universidade
Harvard, em comunicado.
O fragmento provavelmente remonta a uma data entre os séculos VI e IX,
mas poderia ter sido escrito até mesmo no segundo século da Era Comum,
segundo os resultados do estudo publicados na Harvard Theological
Review.
A datação por radiocarbono do papiro e uma análise da tinta utilizando
espectroscopia Micro-Raman foram realizadas por especialistas da
Universidade de Columbia, da Universidade de Harvard e do Instituto de
Tecnologia de Massachusetts (MIT).
"A equipe concluiu que a composição química do papiro e os padrões de
oxidação são consistentes com papiros antigos, ao comparar o fragmento
do Evangelho da Esposa de Jesus (Gospel of Jesus' Wife - GJW, em inglês)
com um fragmento do Evangelho de João", declarou o estudo.
"O teste atual suporta, assim, a conclusão de que o papiro e a tinta do GJW são antigos", esclareceu.
Origem desconhecida
A origem do papiro é desconhecida. Karen King, historiadora da Harvard Divinity School, o recebeu de um colecionador - que pediu para permanecer anônimo - em 2012.
A origem do papiro é desconhecida. Karen King, historiadora da Harvard Divinity School, o recebeu de um colecionador - que pediu para permanecer anônimo - em 2012.
King, uma historiadora do cristianismo primitivo, declarou que a
ciência mostrar que o papiro é antigo não prova que Jesus era casado.
"A questão principal do fragmento é afirmar que as mulheres que são
mães e esposas podem ser discípulas de Jesus - um tema que foi muito
debatido no início do cristianismo, num momento em que a virgindade
celibatária se tornou cada vez mais valorizada", explicou King em um
comunicado.
"Este fragmento do evangelho fornece uma razão para reconsiderar o que
pensávamos que sabíamos, ao se perguntar o papel que as declarações
sobre o estado civil de Jesus desempenharam historicamente nas
controvérsias cristãs sobre casamento, celibato e família".
O fragmento mede 4 cm x 8 cm. King declarou que a data do documento -
escrito séculos depois da morte de Jesus - significa que o autor não
conhecia Jesus pessoalmente.
Sua aparência bruta e os erros gramaticais sugerem que o escritor tinha apenas uma educação elementar, acrescentou.
Leo Depuydt, professor de Egiptologia da Universidade Brown, escreveu
um artigo, também publicado na Harvard Theological Review, descrevendo
por que acredita que o documento é falso.
"O fragmento do papiro parece perfeito para um esquete do Monty Python (famoso grupo de comediantes britânicos)", declarou.
Ele apontou erros gramaticais e o fato de as palavras "minha esposa"
parecerem ter sido enfatizadas em negrito, o que não é utilizado em
outros textos coptas antigos.
"Como um estudante de copta convencido de que o fragmento é uma criação
moderna, sou incapaz de fugir à impressão de que existe algo quase
engraçado no uso das letras em negrito", escreveu.
King publicou uma refutação às críticas de Depuydt, dizendo que o fato
de a tinta estar borrada era comum e que as letras abaixo de "minha
esposa" eram ainda mais escuras.
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