Grupo de arqueólogos e pesquisadores da Unisul resgatou esqueletos de tribos sambaqueiras
Estimativa é que sítio arqueológico tenha mais de 4 mil anos
Foto:
Charles Guerra / Agencia RBS
Marcelo Becker
No local onde serão fixados os pilares da nova Ponte Anita Garibaldi,
sobre o Canal de Laranjeiras, em Laguna, o passado e o futuro convivem
lado a lado. Ou melhor, praticamente no mesmo lugar.
Nesta área, um grupo de arqueólogos e pesquisadores da Universidade
do Sul de Santa Catarina (Unisul) faz o resgate de dezenas de esqueletos
indígenas de um sítio arqueológico com existência estimada em mais de 4
mil anos.
As escavações comandadas pela coordenadora do Grupo de Pesquisa em
Educação Patrimonial e Arqueologia (Grupep) da Unisul, Deise Scunderlich
Eloy de Farias, acontecem no local que já havia sido mapeado por um
diretor do Museu Nacional do Rio na década de 1950. No ano passado, uma
nova expedição da mesma instituição passou três semanas dando
continuidade aos trabalhos de pesquisa.
A área demarcada para a construção de um pilar da ponte, que terá 2,8
quilômetros de extensão, no sentido sul-norte da BR-101, tem 20 metros
quadrados e revelou uma grata surpresa aos pesquisadores. Ao aprofundar a
escavação em cerca de um metro e meio foram descobertos vários
esqueletos de crianças e adultos de tribos sambaqueiras.
— Eles teriam vivido aqui mais de dois mil anos antes de Cristo, isso
foi bem antes dos Guarani e Carijós habitarem essa região. Aqui é uma
área de sepultamento — afirma a arqueóloga.
Além
dos 15 esqueletos encontrados nos últimos dias, dois somente na
terça-feira, o grupo de pesquisadores também descobriu artefatos
cerimoniais como resto de alimentos e ocre, uma espécie de argila
colorida utilizada por povos pré-históricos em artes rupestres. Todo
material foi catalogado e encaminhado ao laboratório da Unisul, onde
serão feitas análises para tentar descobrir informações como hábitos
alimentares e causas da morte.
Como os integrantes do grupo residem em Tubarão todos voltam para
casa depois das 17h sem precisar acampar ou pernoitar em Laguna. A única
situação curiosa que eles presenciaram nesse período de pesquisa às
margens da BR-101 foi o caos provocado pelo congestionamento na rodovia
na véspera do feriado de 7 de setembro.
Trabalho deverá seguir por mais duas semanas
A previsão é de que a pesquisa atual continue por mais uma ou duas
semanas. Alguns moradores da região veem com desconfiança o trabalho de
preservação.
— Muitas pessoas pensam que a pesquisa vai atrapalhar a obra da
ponte, o que não é verdade. O resgate do sítio arqueológico está dentro
do cronograma — ressalta a coordenadora do trabalho de campo.
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