terça-feira, 11 de janeiro de 2011

A gente da Baixada Fluminense



Escavações para a construção do Arco Rodoviário no Rio de Janeiro descobrem cerca de 40 sítios arqueológicos que apontam populações de até 6 mil anos na região

Ronaldo Pelli

As escavações para a construção do Arco Rodoviário, que ligará a Rio-Bahia à Rio-Santos em uma estrada em volta da Baía de Guanabara, está tendo efeitos colaterais positivos. Além de, futuramente, desafogar o trânsito na capital e, segundo o governo, incrementar a economia do estado, já foram descobertos cerca de 40 sítios arqueológicos que contam um pouco da origem do povoamento da Baixada Fluminense.

A região, que sempre foi uma espécie de celeiro do Rio e teve sua história diretamente ligada à da capital do estado, agora pode se vangloriar de saber que há pelo menos 6 mil anos os sambaqueiros já viviam por lá. Em seguida, foi a vez dos índios, europeus, africanos e, em seguida, a mistura de todos esses elementos que veio a dar no que chamamos de brasileiro.

"Em Japeri [foto à esquerda], encontramos uma urna tupi-guarani. Encontramos em todos os sítios, vestígios de colonização europeia, com louças dos séculos XVI ao XIX e até um relógio de sol, com numerais em algarismos romanos. Também encontramos cerâmica indígena e cabocla e cachimbos, muitos cachimbos", conta a arqueóloga Jandira Neto, que comanda as pesquisas pelo Instituto de Arqueologia Brasileira, cuja sede fica em Belford Roxo, também na Baixada.

Ela contou que o processo de reconhecimento desses sítios começou em 2008, quando se iniciaram os Estudos de Impacto Ambiental da rodovia. Em seguida, explica a arqueóloga, foi feito um levantamento da ocupação da Baixada porque apareceram indícios nos primeiros testes e porque havia relatos mostrando que a região havia sido ocupada.

"Isso feito, o Iphan sugeriu um estudo mais profundo, um levantamento com prospecção, feito em 2009, com varredura nos 72 quilômetros do traçado da estrada", conta. "Na sequência, na terceira etapa, foi feito o resgate em si, que tem indicação do Iphan, das áreas que têm risco, por conta da passagem da malha viária", lembra, dizendo que o número de sítios pode ainda subir por conta da continuação das obras.

"Todo acervo está no Instituto de Arqueologia Brasileira. E o sambaqui de São Bento deve ser aberto ao público. Estão captando recursos para construir um museu naquela área."

Jandira conta que também há a possibilidade de se fazer um parque na região do Areal, onde se acredita ter existido o Porto do Barriga, que nunca tinha sido localizado.

"A história tem registro desse lugar, um dos pequenos portos do Rio Iguaçu. Ele era usado como apoio para quem ia para Minas Gerais, com recepção de material. Encontramos formas de pão-de-açúcar [onde se purgava o açúcar]. Há vestígios de um trapiche ali."

A arqueóloga também se mostrou preocupada em mostrar às populações afetadas com as obras do arco um pouco do que foi descoberto com todas as escavações. Para isso, ela criou um programa de educação patrimonial que, entre agosto e outubro de 2010, fez exposições de arqueologia em cinco municípios da Baixada, e, segundo ela, atingiu cerca de 9,8 mil alunos da região.

"Esses sítios mostram como se formou a gente de Baixada."
Leia também:
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Fonte: Revista de História da Biblioteca Nacional

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