Publicada em 22/01/2008 às 21h40m
Ângela Góes, do Globo OnlineRIO - Após 17 anos dedicados à pesquisa, ao ensino, à difusão e à proteção do patrimônio fóssil de Uberaba, em Minas Gerais, Luiz Carlos Borges, diretor do Centro de Pesquisas Paleontológicas Llewellyn Ivor Price e do Museu do Dinossauro de Peirópolis, foi surpreendido, na semana passada, com o fechamento do centro de excelência que ajudou a criar, em julho de 1992. Vítima da suspensão do repasse de verbas da Prefeitura local para a Fundação Municipal de Ensinos Superiores de Uberaba (a Fumesu, que mantém a instituição), o gestor do segundo maior sítio paleontológico do Brasil se viu obrigado a "passar o chapéu" para reunir os recursos necessários para custear os gastos mensais com água, luz, telefone e pessoal ( Fotos da instituição ).
" O museu reabre com a missão de se tornar um centro de excelência, não só em pesquisa, mas em gestão financeira. Precisamos garantir a nossa sobrevivência "
- Isso nos dá fôlego para levar adiante. Mas são recursos temporários. Ainda precisamos correr atrás de outros parceiros - desabafou Luiz Carlos, por telefone, ao GLOBO ONLINE. - Vencido o primeiro desafio, o museu reabre com a missão maior de se tornar um centro de excelência, não só em pesquisa, mas em gestão financeira. Precisamos garantir a nossa sobrevivência até que conquistemos a auto-suficiência. Neste momento, sou obrigado a ter uma visão empresarial. Ou a gente cresce ou entra em extinção.
( Clique e leia aqui a íntegra da entrevista )
" Até agosto, devemos apresentar o que talvez seja uma das mais importantes descobertas já feitas no Brasil "
- Nos seus 17 anos de vida, o Museu nunca viveu um momento tão bom quanto agora. Temos vários projetos em andamento, dois deles de grande relevância científica e impacto internacional - revelou o pesquisador. - Até agosto, devemos apresentar o que talvez seja uma das mais importantes descobertas já feitas no país. São fósseis de uma nova espécie de saurópode, um tipo de dinossauro herbívoro ainda não catalogado. Além disso, ossos recentemente descritos pela nossa equipe comprovariam a existência, no Triângulo Mineiro, de um grupo de dinossauros carnívoros até então encontrado apenas na Patagônia - acrescentou.
O momento também seria excelente em termos de novas parcerias.
- Há vários projetos acertados, alguns com recursos já depositados, que precisam ser finalizados - ressaltou o pesquisador. - Existe um cenário muito bom para o investimento e o aporte de recursos, com perspectivas de investimentos em vários projetos. Mas, por enquanto, nós ainda não somos auto-suficientes e dependemos de ajuda externa para cobrir os gastos mensais com salários e contas [que somam cerca de R$ 15 mil].
Em busca da desejada autonomia do Centro de Pesquisas Paleontológicas e do Museu do Dinossauro, Luiz Carlos sonha alto, mas com os dois pés no chão. Enquanto estuda formas de implementar na região um projeto envolvendo turismo e sustentabilidade sócio-ambiental, chamado "Uberaba, Terra dos Dinossauros", o pesquisador continua a sua luta pelo "pão de cada dia".
" Essa crise vai ter que servir como uma injeção de ânimo "
Centro de excelência ameaçado de extinção O centro é praticamente a única instituição no Brasil com um trabalho sistemático de escavação paleontológica. Uma equipe que vai a campo todos os dias, durante 4 ou 5 meses do ano, em busca de novos achados.
" Em 15 anos, conseguimos reunir uma coleção de 2.500 exemplares fósseis. Nossas descobertas já geraram 85 publicações científicas "
Uma delas, em particular, enche o pesquisador de orgulho. É o uberabasuchus terrificus, um fóssil que se destaca pela relevância científica, pela beleza geológica e pelo grau de preservação. Descoberto em 2000 no Triângulo Mineiro, o "crocodilo terrível de Uberaba" está exposto no museu na rocha em que foi sepultado, há 70 milhões de anos.
- É um exemplar único no mundo, com cerca de 70% do esqueleto preservado em posição de vida, que trouxe informações muito valiosas para o entendimento da evolução do seu grupo e da geografia do passado. A partir dele, pudemos confirmar a hipótese de que a América do Sul e o sudeste da África, Madagascar essencialmente, estavam unidos pela Antártica, e que esta não era gelada - explica Luiz Carlos. - Além disso, eu não conheço fóssil mais bonito que este em todas as coleções - gaba-se.
Posted by:
Lucimary Vargas
Além Paraíba-MG-Brasil
observatorio.monoceros@gmail.com
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