(por: Leila Ossola)
Era o ano de 1984 e eu precisava terminar um trabalho universitário sobre os índios, seus costumes, migrações etc. Pesquisando, cheguei aos Dogons e aos mistérios que envolviam a Estrela Sírius.
Sírius – uma das estrelas mais bonitas do céu - é conhecida como a ‘Estrela do Cão’ porque está localizada na constelação Canis Major (Cão Maior). Está a 8,7 anos-luz da Terra e só podemos vê-la porque é a maior e a mais brilhante no céu.
Sírius é duas vezes maior e vinte vezes mais brilhante do que o Sol, podendo ser vista em qualquer lugar do planeta Terra. É uma estrela trinária, o que significa que tem duas companheiras - estão juntas pela gravidade. A outra estrela, Sírius B, é também conhecida como “The Pup” (“Filhote de Cachorro”). E, recentemente, já se descobriu Sírius C.
A estrela era conhecida pelos antigos astrônomos egípcios como ‘Septet’ ou ‘Sotis’, assim como a sua companheira menor, Sírius B. Contudo, a Sírius B, uma estrela do tipo “anã branca”, só foi identificada pelos astrônomos ocidentais há pouco tempo.
Sírius é personagem de um intrigante mistério, que envolve o povo Dogon, da África. A sua maioria vive em aldeias penduradas nas escarpas de Bandiagara, a leste do Rio Niger, mas não pode ser classificada como “primitiva”, porque possui um estilo de vida muito complexo.
Os Dogons têm um conhecimento muito preciso do sistema estelar de Sírius e dos seus períodos orbitais. Os sacerdotes Dogons, dizem que sabem desses detalhes, que aparentemente são transmitidos oralmente e de forma secreta, há séculos antes dos astrônomos, levando a um de seus mistérios.
Na década de 1940, os Dogons revelaram muitos de seus conhecimentos a dois antropólogos franceses: faziam referências a Sírius - não apenas à estrela visível, mas também a uma segunda estrela, de onde teriam vindo seus antepassados. Segundo os Dogons, essa segunda estrela era pequena, mas composta de um material extremamente denso: "Todos os seres humanos juntos não conseguiriam carregá-la", dizia sua tradição.
Para a tribo, toda a criação está vinculada à estrela, a que chamam de ‘‘Po Tolo’’, que significa “estrela semente”. Esse nome vem da minúscula semente chamada de ‘’Fonio’’, que na botânica é conhecida como ‘’Digitaria exilis’’. Com a diminuta semente, os Dogons referem-se ao início de todas as coisas. De acordo com os Dogons, a criação começou nessa estrela, qualificada pela astronomia como “anã branca”, e que os astrônomos modernos chamam de Sirius B, a companheira menos brilhante de Sirius A, da constelação Cão Maior.
A tribo descreve que as órbitas compartilhadas de Sírius A e de Sírius B formam uma elipse, com Sírius A localizada num dos seus focos - uma idéia que a astronomia ocidental só levou em conta no início do século XVII, quando Johannes Kepler propôs que os corpos celestes se movimentavam em círculos perfeitos. Os Dogons também dizem que Sirius B demora 50 anos para completar uma órbita em satélite em volta de Sírius A - a astronomia moderna estabeleceu que o seu período orbital é de 50,4 anos.
O interessante é o conhecimento que diziam ter de um terceiro astro do sistema Sírius, só recentemente descoberto pelos astrônomos. Os Dogons chamam a este terceiro corpo de ‘’Emme Ya’’ ou “Mulher Sorgo” (um cereal) e dizem que é uma estrela pequena com apenas um planeta na sua órbita, ou um grande planeta com um grande satélite. Antropólogos calculam que esse conhecimento faça parte da mitologia dos Dogons há vários séculos. Mas como poderiam esses indígenas, vivendo numa das regiões mais pobres da África, saber detalhes minuciosos sobre uma estrela longínqua, séculos antes de ela ser detectada pela ciência moderna (a pequena estrela só foi observada oficialmente em 1862, pelo astrônomo Alvan Clark)?Essa questão foi tema do livro ‘’O Mistério de Sírius, de Robert Temple’’.
A tese dele é que seres extraterrestres estiveram na Terra há cerca de 5 mil anos e revelaram muitos segredos da galáxia, entre eles as informações sobre a tal estrela. Na época, a comunidade científica ridicularizou Temple e vários astrônomos conhecidos, entre os quais Carl Sagan, apresentaram sua explicação. Segundo eles, missionários franceses visitaram os Dogons na década de 1920 e teriam transmitido essas informações aos indígenas africanos.
A explicação de Sagan também não foi bem recebida, pois parece difícil que missionários franceses possam ter falado com os Dogons sobre uma pequena e densa estrela em volta de Sírius, inclusive com detalhes sobre sua órbita. . Não só pelo fato de os missionários terem outros assuntos a tratar, mas também pelo desnível cultural entre eles e os indígenas africanos. Se os Dogons jamais tivessem falado da estrela, os missionários não teriam motivo algum para criar histórias envolvendo seres extraterrestres. Uma outra explicação afirma que, no passado, os Dogons possuíam visão extremamente apurada, o que lhes teria permitido observar a pequena estrela a olho nu. Outra diz que os antigos egípcios possuiriam poderosos telescópios que lhes permitiram estudar a estrela e divulgar um conhecimento que chegou aos Dogons. A verdade é que, mesmo que essas hipóteses bizarras fossem verdadeiras, isso ainda não explicaria informações como a alta densidade da estrela, que só foram comprovadas recentemente, com o exame do seu espectro luminoso.
Investigadores afirmam que os conhecimentos desse sistema pelos Dogons, possuem milhares de anos de idade e podem ter a seu favor alguns fatos históricos. Supõe-se que a tribo descende remotamente dos gregos, que colonizaram a parte da África que atualmente constitui a Líbia. Os gregos “expatriados” poderiam ter adquirido alguns conhecimentos dos seus vizinhos, os antigos egípcios.
Contudo, a forma como os Dogons adquiriram conhecimentos astronômicos continua sem respostas. No entanto, a tribo africana explica os seus conhecimentos astronômicos do sistema Sírius de uma forma muito simples ou lendária: os seus antepassados adquiriram tais conhecimentos de visitantes anfíbios extraterrestres, chamados por eles de “Nommos”, provenientes da estrela ‘’Po Tolo’’ (Sirius B). Contam que os Nommos chegaram pela primeira vez , do Sistema Sírius, numa nave que girava em grande velocidade quando descia e que fazia um barulho tão forte como o de o rugido do vento. Também dizem que a máquina voadora aterrou como se fosse uma pedra na superfície da água, semeando a terra como se “jorrasse sangue”. Alguns estudiosos dizem que, na língua Dogon, isso se assemelha ao “escape de um foguetão”.Os Dogons também falam que pode ser interpretado como a “nave mãe” colocada em órbita. Isso não é tão estranho quanto parece: a Apolo ficou em órbita lunar enquanto o módulo descia para fazer a primeira alunissagem em Julho de 1969. Os Dogons acreditam que deuses (Nommos) vieram de um planeta do sistema Sírius, há cinco ou seis mil anos atrás. Na linguagem Dogon, Nommos significa “associado à água... bebendo o essencial”.
Segundo a lenda, os anfíbios Nommos viviam na água e os Dogons referem-se a eles como “senhores da água”. A arte Dogon, mostra sempre os Nommos parte humanos, parte répteis. Lembram o semideus anfíbio ‘’Oannes’’ dos relatos babilônios e o seu equivalente sumério ‘’Enki’’. Os textos religiosos de muitos povos antigos referem-se aos pais das suas civilizações como seres procedentes de um lugar diferente da Terra.
Lenda ou verdade, o nascimento de Sírius era tão importante para os antigos egípcios que templos gigantescos foram construídos, com suas naves laterais principais voltadas com muita precisão na direção do ponto do horizonte onde Sírius apareceria, e sua luz era canalizada em direção ao altar do santuário interno dos templos, marcando assim o início do Ano Novo Egípcio.
A literatura latina usa muito a expressão “Dia de Cão” para designar o surgimento helíaco no verão de Sírius. Acreditavam, que os dias eram tão áridos e quentes devido à “incandescente” Sírius, pois acreditavam que ela era vermelha devido à época do ano em que aparecia.
Mas, ao pesquisarmos profundamente sobre os mistérios que circundam a estrela Sírius, nos deparamos com outros povos e suas histórias e mitologias. Como a da tribo guardiã do santuário de Hebron - os ‘’Calebitas’’ - que eram os “homens-cães “ numa alusão aos cães que eram guardiões e preservavam os segredos da ‘’Estrela Cão’’- Sírius - ou indo mais adiante encontraremos Metsamor na Armênia, onde arqueólogos encontraram vestígios de um provável centro religioso voltado para o nascimento helíaco de Sírius, Anúbis e Ortro (irmão de Cérbero , o cão de 5 cabeças) ambos identificados com Sírius, o embalsamamento de múmias egípcias que demoravam 70 dias ou o período em que a estrela Sírius não estava visível, a associação de Sírius com a deusa egípcia Ísis, mitologia ligada aos Argonautas, mandamentos divinos de que os hebreus deveriam comemorar o jubileu (a cada 50 anos ou o período da órbita de Sírius), além das oitavas oraculares, que serão um artigo a parte.
Este artigo é parte de uma exaustiva pesquisa sobre a estrela Sírius e seu sistema. Não encerra aqui e também não se deseja passar aos leitores a conotação de vidas extraterrestres, mas sim a visão astronômica da ligação de Sírius e suas companheiras com fenômenos e crenças humanas na antiguidade.
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5 comentários:
MAGNIFICO ARTIGO!
REVERENCIO O AUTOR PELA QUALIDADE DO TEXTO E PELA IMPARCIALIDADE DA REDAÇÃO.
também reverencio o autor pela imparcialidade do texto e pelas informações levantadas
Marcelo e LeU, obrigada pelos comentários. Poderão ler mais sobre o assunto no livro O Enigma de Sirius de Robert Temple. Grande abraço Leila Ossola
Parabéns pelo artigo. Objetivo, informativo e imparcia.
Parabéns pela abordagem do assunto. Informativa, objetiva e imparcial.
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