Sítio arqueológico na África do Sul guarda alguns dos fósseis mais famosos do planeta. Visitante pode descer em caverna e até tocar em ossos
Por Thiago Dias - Direto de Joanesburgo, África do Sul
A partir do dia 11 de junho, os sul-africanos estarão fazendo história com o pontapé inicial da 19ª Copa do Mundo no Soccer City, em Joanesburgo. Mas, a cerca de uma hora do estádio, a história já foi feita. Há milhões de anos. O Berço da Humanidade é uma das principais áreas com sítios arqueológicos do planeta e abriga alguns dos fósseis mais famosos, como “Mrs. Ples”, a “Criança de Tung” e o “Little Foot”. O visitante pode até descer em uma das cavernas e tocar em ossos achados recentemente.
A réplica do crânio de 'Mrs. Ples': fóssil original está em uma faculdade de Joanesburgo (Fotos: Thiago Dias)
A viagem até a região, transformada em Patrimônio da Humanidade, é uma verdadeira viagem no tempo. Primeiro, porque o visitante deixa a área urbana de Joanesburgo e entra em uma zona rural, com menos casas e muito verde. Depois, porque esta é a intenção do museu Maropeng: o local exibe vários fósseis (réplicas e verdadeiros) encontrados na região, além de salas interativas mostrando a evolução da Terra e do homem.
O Berço da Humanidade tem 47 mil hectares e 13 sítios arqueológicos. O mais importante é o localizado nas cavernas Sterkfontein, que existem há cerca de 20 milhões de anos e até hoje recebem paleontólogos. O local foi descoberto em 1986 por mineiros em busca de ouro. Um ano depois, a mina foi desativada e passou a ser usada para paleontologia. Hoje, Sterkfontein é responsável por mais de um terço dos hominídeos já encontrados.
A entrada do museu Maropeng, no Berço da Humanidade, na África do Sul: viagem pelo tempo
As cavernas deram origem a duas “estrelas” dos Astrolophitecus Africanus: “Mrs. Ples”, um crânio achado em 1947 e que tem cerca de 2,3 milhões de anos; e o “Little Foot”, um esqueleto de hominídeo de 4,1 a 3,3 milhões de anos, o mais antigo do Berço da Humanidade, descoberto oficialmente em 1994. “Mrs. Ples” foi identificada como uma adolescente por seu descobridor, o doutor Robert Broom, mas outro cientista, Francis Thackeray, banca uma teoria de que trata-se de um jovem macho.
A visita combinada ao Maropeng e a Sterkfontein custa 175 rands (R$ 41). O museu fica a cerca de oito quilômetros da caverna, mas os ingressos são vendidos juntos. O Maropeng não se limita a falar da África do Sul, pois há muita informação sobre a origem da Terra, a criação da vida e a evolução do homem. Há alguns fósseis verdadeiros, mas a maioria da coleção é de réplicas. Como a de “Lucy”, o Astrolophitecus Africanus de 3,2 milhões de anos localizado na Etiópia.
Após descerem 60 metros, turistas se encantam com a grandiosidade da caverna Sterkfontein
O passeio pelas cavernas de Sterkfontein coloca o visitante em maior contato com o passado. Um guia leva os turistas a 60 metros para baixo, com direito a passagens estreitas e baixas, que exigem alguma ginástica. O visual lá dentro é deslumbrante, com pedras de milhões de anos. Em um ponto é possível ver até o osso de um fóssil encontrado recentemente, mas que não foi retirado.
O local onde o “Little Foot” foi encontrado em 1994 é protegido com um portão e o acesso só é permitido aos cientistas. Na saída da caverna, uma estátua de Robert Broom com “Mrs. Ples” na mão homenageia o homem que liderou as principais pesquisas na região. Há também uma área aberta para observar o túnel onde “Mrs. Ples” foi encontrada (atualmente, o crânio está em uma universidade de Joanesburgo).
A primeira descoberta importante na região do Berço da Humanidade foi a “Criança Taug”, em 1924. O crânio do fóssil cabe na palma da mão de um adulto. Pelos estudos, o esqueleto era de uma pessoa de três a quatro anos.
A maioria das salas do Maropeng tem interatividade com os visitantes, que podem brincar com a coleção