Um
espeleo-arqueólogo atravessa trecho do túnel do Acqua Claudia;
especialistas fizeram mapeamento dos aquedutos da Roma Antiga. (Foto:
AFP Photo/Filippo Monteforte)
Equipados com medidores de distância a laser, GPS e robôs por controle
remoto, um grupo de espeleólogos (especialistas em cavernas) está
concluindo o primeiro mapeamento dos aquedutos da Roma Antiga, que
consideram ser a "última fronteira" da arqueologia.
Amarrados a cordas, eles desceram por poços de acesso e escalaram
fendas para acessar os 11 aquedutos que abasteciam Roma, um labirinto
que ainda corre por centenas de quilômetros no subsolo e ao longo de
viadutos impressionantes.
A missão destes especialistas é atualizar o mais recente mapa
superficial da rede, compilado no começo do século 20 pelo arqueólogo
britânico Thomas Ashby.
Enquanto atravessava um trecho do túnel perfeitamente preservado do
Acqua Claudia, no terreno de um convento franciscano em Vicovaro, perto
de Roma, Alfonso Diaz Boj disse se sentir "orgulhoso" do estudo.
"Ele combina o que foi o nascimento da arqueologia como ciência com os
mais recentes instrumentos disponíveis", prosseguiu Diaz Boj, que faz
parte do grupo Sotterranei di Roma (Subterrâneos de Roma), usando
capacete com lanterna.
Marcas de picareta dos escavadores romanos ainda podem ser vistas no
calcário do túnel concluído em 38 d.C, sob o domínio do imperador
Cláudio e uma camada de calcificação a cerca de um metro do chão mostra
aonde o nível da água pode ter chegado.
"Estes aquedutos podem não ser tão bonitos quanto uma estátua ou
algumas obras de arquitetura, mas creio que são muito importantes, são
muito belos", afirmou.
Os antigos canais eram verdadeiras proezas de engenharia, dependendo
unicamente da gravidade para assegurar o fluxo d'água, e podem ser
vistos por todo o antigo Império Romano, que se estendeu da Alemanha ao
norte da África.
Com a ajuda de cordas, um pesquisador desce para
túnel. (Foto: AFP Photo/Filippo Monteforte)
A fronteira final
Sua importância estratégica é reforçada pelo fato de que Roma tinha um
magistrado especial para supervisionar sua manutenção e que os visigodos
os interromperam quando montaram o cerco à cidade.
O Acqua Claudia se estende por 87 quilômetros, das Montanhas Simbruini
ao coração de Roma, e fornecia 2.200 litros d'água por segundo.
Apenas um dos aquedutos ainda funciona - o Acqua Vergine - e pode ser
acessado em vários locais escondidos perto de Roma, incluindo uma
entrada perto da Vila Médici, que leva a uma escadaria em espiral até o
nível da água.
O Acqua Vergine tem um total de 20 quilômetros de extensão e termina na
Fontana de Trevi, fotografada todos os dias por multidões de turistas.
"A Roma subterrânea é a última fronteira", afirmou Riccardo Paolucci,
outro explorador, enquanto examinava um viaduto em um vale perto de
Vicovaro, que levava a água para mais longe, na direção da cidade.
"A água era um serviço fundamental para a higiene. Em uma cidade como
Roma, que tinha um milhão de habitantes, havia muito poucas epidemias",
afirmou.
"Havia um conceito de serviço para o povo, para a cidade. É um
conceito-chave que talvez faça falta não apenas na Roma moderna, mas
também globalmente", continuou.
Diaz, Paolucci e os outros do Sotterranei di Roma trabalham em conjunto
com a autoridade arqueológica romana, ajudando-a a entender o que pode
ser visto na superfície do que está abaixo e inacessível, sem a
necessidade de um equipamento especializado.
"Nós somos o que somos por causa do que temos dentro de nós, e Roma é o
que é por causa do que está embaixo dela", afirmou Paolucci, um
espeleólogo que também é chamado em incidentes de emergência ou sempre
que um buraco de escoamento se abre na cidade.
O grupo também organiza visitas guiadas e cursos, inclusive um sobre
aquedutos com início previsto para o próximo mês e que está ganhando
fama internacional. Seus integrantes também foram incumbidos de mapear
os vestígios subterrâneos da antiga Éfeso, na atual Turquia.
Seu estudo dos aquedutos se baseia em um mapa feito por Ashby, que foi
diretor da Escola Britânica de arqueologia em Roma, entre 1906 e 1925.
A assinatura de Ashby pode ser vista na parede de um setor do aqueduto
Acqua Marcia, que também passa por Vicovaro, ao lado de grafites e
poemas do século XVII, deixados por visitantes que caminharam pelos
antigos canais.
"Os mapas de Ashby estavam à frente de seu tempo", disse Diaz. "Ele
buscava os vilarejos, as tratorias locais, falava com fazendeiros,
caçadores. Ele descobriu o que descobriu graças ao conhecimento local",
afirmou. ''É uma técnica que usamos até hoje", emendou.
Exploração teve o objetivo de realizar um mapa completo dos aquedutos da Roma Antiga.
(Foto: AFP Photo/Filippo Monteforte)