quarta-feira, 20 de março de 2013

Escavação ferroviária encontra 13 corpos em vala comum medieval

Vítimas podem ter sido mortas pela Peste Negra no século 14.
Doença transmitida por pulga de rato teria dizimado até 1/3 da Europa
.

Do G1, em São Paulo
Vala comum de corpos da Idade Média foi encontrada em escavação de túnel em Londres (Foto: Crossrail/AFP) 
Vala comum de corpos da Idade Média foi achada em escavação de túnel em Londres (Foto: Crossrail/AFP)
 
Funcionários de um projeto ferroviário no centro de Londres encontraram 13 corpos de pessoas que teriam sido vítimas da Peste Negra no século 14. A doença, transmitida pela pulga de ratos, pode ter dizimado até um terço da Europa na Idade Média. Até hoje, a pandemia é considerada a mais cruel e destrutiva da história humana.

A descoberta dos esqueletos em uma vala comum foi feita pelo projeto bilionário Crossrail durante a escavação de um túnel sob a Praça Charterhouse.

Segundo informações do site do jornal britânico "Daily Mail", as ossadas estavam a quase 2,5 metros entre as estações de trem Farringdon e Barbican, duas das áreas mais movimentadas da capital inglesa.

E os corpos de homens e mulheres não foram simplesmente jogados nas valas, mas colocados lado a lado em fileiras uniformes, com as mãos cruzadas sobre o tronco.

Agora, arqueólogos (vistos nas fotos) trabalham no local. O principal especialista, Jay Carver, disse que essa é uma obra muito significativa e que ainda há muitas perguntas a responder. Primeiro, serão feitas análises de DNA para identificar a causa da morte dessas pessoas, qual a idade delas na época e quem elas foram.

Quando os exames forem concluídos, os esqueletos devem ser enterrados no próprio sítio arqueológico ou em um cemitério.
Arqueólogo faz medições de esqueleto encontrado no centro de Londres (Foto: Crossrail/AFP) 
Arqueólogo analisa esqueletos desenterrados por projeto ferroviário na capital inglesa
 (Foto: Crossrail/AFP)
 
Arqueólogo faz medições de esqueleto encontrado no centro de Londres (Foto: Crossrail/AFP) 
Especialista faz medições de ossada encontrada sob praça no centro de Londres 
(Foto: Crossrail/AFP)

sábado, 2 de março de 2013

Estudos de Arqueologia Forense Aplicados aos Remanescentes Humanos dos Primeiros Imperadores do Brasil Depositados no Monumento à Independência.


AMBIEL, Valdirene do Carmo Estudos de Arqueologia Forense Aplicados aos Remanescentes Humanos
dos Primeiros Imperadores do Brasil Depositados no Monumento à Independência. Dissertação de
Mestrado em Arqueologia (MAE/USP. Universidade de São Paulo, São Paulo, 2013).
Orientadores: Dorath Pinto Uchôa e Astolfo G. Mello Araujo

Este projeto foi de iniciativa própria de Valdirene do Carmo Ambiel que nasceu em 1971, próximo ao
Monumento à Independência, no bairro do Ipiranga, na cidade de São Paulo. Valdirene, passou boa parte
de sua infância brincando na área do Monumento e Museu Paulista da Universidade de São Paulo que hoje
é conhecida como Parque da Independência. A pesquisadora pode acompanhar pessoalmente, a chegada
dos remanescentes humanos da Imperatriz Dona Amélia de Leuchtenberg à Cripta (ou Capela) Imperial,
em abril de 1982.
Junto com estes eventos ela acompanhou os problemas de infiltração de água no local e com este problema
vieram as preocupações com os efeitos que a umidade poderia produzir aos despojos dos Imperadores:
D.Leopoldina, Dom Pedro I e D. Amélia. Em 2010 surgide no local. Pois apesar das reformas e obras,
como a abertura do espaço museológico realizado pelo Departamento do Patrimônio Histórico (DPH) da
Prefeitura do Município de São Paulo entre o final dos anos de 1990, início dos anos 2000, terem diminuído
o problema de infiltração, a umidade ainda persiste no local.
Desta forma, não houve em nenhum momento uma  ‘encomenda’ por parte de qualquer órgão público ou da
Família Imperial do Brasil, seja para a pesquisadora Valdirene do Carmo Ambiel, seja para Universidade de São Paulo, para que este trabalho fosse realizado. 

Houve sim o apoio da Família Imperial, Departamento do Patrimônio Histórico da Prefeitura do Município de São Paulo (DPH), Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Brasileiro (IPHAN). Mas não uma solicitação formal. Muito pelo contrário, apesar destes órgãos  públicos e da Família terem informações sobre o estado  em que se encontrava o local, a arqueóloga passou os  últimos dois anos buscando as permissões dos mesmos  citados acima para a realização destes trabalhos. Toda  esta preocupação por parte do DPH, IPHAN e Família  Imperial é natural, por se tratar de um assunto que envolve a história e a identidade brasileira, e no caso da Família Imperial, por se tratar da história de seus antepassados. Este projeto de pesquisa de autoria de Valdirene do Carmo Ambiel se constituiu em uma dissertação de mestrado defendida pela pesquisadora  no Programa de Pós-graduação em Arqueologia do MAE/USP sob orientação de Dorath Pinto Uchôa e  Astolfo Gomes Mello Araujo.
Acreditamos ser de muita importância que as informações sobre os objetivos deste trabalho sejam levados ao conhecimento público e que fiquem registrados.
Os gastos com os 7 meses de trabalho na Capela  Imperial do Ipiranga (23/2/2012 até 6/9/2012) foram
arcados pela pesquisadora Valdirene do Carmo Ambiel,  bolsista de mestrado CAPES, e com o apoio e
colaboração do IPEN, do Grupo de Física Aplicada com Aceleradores do Instituto de Física da USP, Departamento de Patologia, Departamento de Radiologia e  Serviço de Verificação de Óbitos da Capital da
Faculdade de Medicina USP, do Instituto de Ciências  Biomédicas (ICB/USP), da empresa Estúdio Sarasá
Conservação e Restauroalém é claro de colegas que  como pessoas físicas colaboraram com seu conhecimento para o desenvolvimento deste trabalho  como profissionais e cientistas, pois além das instituições  citadas, houve a participação de médicos legistas e de  um odontolegista e arqueólogo forense, além da troca  de informações com colegas pesquisadores do tema.

Todas estas colaborações tornaram possíveis as  pesquisas realizadas nos remanescentes humanos dos
Primeiros Imperadores do Brasil, fazendo deste trabalho  uma pesquisa multidisciplinar. Assim, este trabalho
contou com recursos próprios sem que houvesse ônus  para o DPH, IPHAN ou mesmo para Família Imperial.
- Dona Leopoldina
O início dos trabalhos na Capela Imperial foi no dia 23/2/12, com a abertura do sarcófago de granito de
D.Leopoldina pela equipe do Estúdio Sarasá e coleta de amostras de cromatografia gasosa pela equipe do
IPEN. Este procedimento foi realizado antes da abertura de todas as urnas funerárias.
No dia 27/2, houve a abertura da urna funerária  com os remanescentes humanos da Imperatriz.
Vê-se, com base nestas imagens, e na decapagem  arqueológica que a Imperatriz foi sepultada com o traje
de gala imperial (o único que ela possuía). Esta  comparação foi feita com iconografias que mostram
D.Leopoldina usando este vestido, com manto e toucado.
Foi localizada também a faixa Imperial e um par de  brincos de estrutura simples. Este material foi higienizado e acondicionado pela equipe do  colaborador Valter D.Muniz e está sob a guarda do
DPH fora do Monumento à Independência. Em breve  fará parte de uma exposição.
Os exames realizados nos remanescentes humanos da  Imperatriz não indicam a presença de fraturas em vida. Também foram analisados, minuciosamente boletins  médicos e outros documentos históricos de novembro e dezembro de 1826, época da morte da Imperatriz que aconteceu em 11 de dezembro de 1826. Este estudo  foi feito pelo Prof.Dr Luiz Roberto Fontes, médico legista,  ginecologista/obstetra e biólogo, que colaborou com  nosso trabalho de pesquisa. Segundo o doutor Fontes,não há indícios que a causa mortis da Imperatriz tenha sido causada por algum tipo de violência física causada pelo Imperador Dom Pedro I, como algumas bibliografias  que estudam o assunto sugerem. Uma vez que o Imperador partiu do Rio de Janeiro para a Cisplatina (Uruguai), em 23 de novembro de 1826. O aborto da Imperatriz aconteceu em 2 de dezembro e o óbito em 11 de dezembro. Além disso, o Dr. Fontes faz vários apontamentos sobre procedimentos aplicados na Imperatriz, que para a Medicina da época eram comuns, mas que podem ter influenciado na piora de seu quadro clinico levando ao óbito.
- D. Pedro I
Todos os procedimentos de cromatografia gasosa e também de coleta para análises fungicas foram
aplicadas também na abertura da urna de D.Pedro I. A questão é que, no caso do Imperador que foi
trasladado de Portugal para São Paulo em 1972, havia  ainda as três urnas. Portanto, antes da abertura de
cada uma delas foi realizada a coleta de amostra para  a cromatografia gasosa pelo IPEN.
Da mesma forma que aconteceu com D.Leopoldina a  Família Imperial e seus representantes foram
chamados, assim como representantes do DPH para  uma breve cerimônia religiosa, obedecendo um pedido  e um direito da família.
Os remanescentes humanos de D.Pedro estavam da mesma forma que D.Leopoldina esqueletizados,
porém, o que mais chamou a atenção foi sua deposição  que mostrava uma total desarticulação. A fragilidade  da madeira do caixão que abrigava os despojos os  obrigou a uma decapagem arqueológica antes do  exame de tomografia.
Nesta decapagem observou-se a presença de  três comendas portuguesas, entre elas o Tosão de Ouro. Esta comenda possui várias vertentes na Europa e pode apresentar diversas formas. Porém, em todas as vertentes, só é usada pelo  soberano ou pelo herdeiro direto ao trono. Foram realizadas análises pelo Grupo de Pesquisa de Física Aplicada com Aceleradores  do IF/USP. Algumas comendas foram  analisadas, além da fluorescência de Raios X,  feitas ‘in situ’, também pelo acelerador nuclear  do Instituto de Física da USP, a técnica usada   foi a PIXE (Particle Induce X-Ray). Todas estas  técnicas, não destrutivas, foram aplicadas  também visando à preservação dos artefatos.
Na decapagem observou-se a presença de  fragmentos de costelas que mostram marcas,  provavelmente feitas para a famosa retirada do coração de D. Pedro que hoje é preservado na  Igreja da Lapa, na Cidade do Porto.
Não foram encontradas comendas ligadas ao  Brasil. Isso porque o Imperador foi obrigado a abdicar em 1831, quando voltou para Portugal,  onde enfrentou uma guerra civil contra o irmão  D. Miguel para assegurar o trono de sua filha D.Maria da Glória, Rainha Maria II de Portugal. Dom Pedro queria ser lembrado, apenas como  um General Português, o Duque de Bragança. Acredita-se, com base nos artefatos
encontrados, que assim foi.
- D. Amélia
O caso da Imperatriz D. Amélia de Leuchtenberg, segunda esposa de D. Pedro I também foi diferentes. Os remanescentes humanos da  Imperatriz foram trasladados para o Brasil em  1982. E não havia registro no DPH onde estesestavam localizados, o que levou a buscar informações com pessoas que foram
responsáveis pelo traslado na época.
Mais de 12 horas se passaram para retirar seu  esquife do nicho funerário, em que se  encontrava na Capela Imperial.  Apesar de o nicho ter sido feito de maneira  cuidadosa, a falta de manutenção do Monumento à Independência fez com que  houvesse no local uma certa presença de  umidade, fazendo com que o ataúde estivesse  úmido.
Da mesma forma que D. Pedro, o corpo de D. Amélia estava dentro de três urnas, uma delas  de chumbo.
Os procedimentos de cromatografia gasosa foram feitos, assim como os de análises fungicas .

Localização da Comenda Tosão de Ouro, onde pode ser observada a presença de muito sedimento.  Pouco acima do artefato foi  evidenciado um botão da farda de   D. Pedro. Foto Valter D. Muniz.
 





Remanescentes Humanos de D.Pedro I do Brasil ou Pedro IV de  Portugal, Duque de Bragança.
Imagens Vitor Hugo Mori

 
A Família Imperial e representantes do DPH foram novamente chamados para  cerimônia de abertura. Para a surpresa de todos os presentes, o corpo de D.Amélia está preservado , como foi observado pelas autoridades dogoverno e divulgado à imprensa na época.
 
Ao contrário de D. Pedro o corpo da Imperatriz foi bem preservado para o traslado,   tanto pelos técnicos portugueses  como pelos brasileiros  não havendo, inclusive a   presença de qualquer tipo de  sedimentos, apenas pequenos  Remanescentes Humanos de D.Pedro I do Brasil ou Pedro IV de Portugal, Duque de Bragança.
 
Com a autorização da Família Imperial, DPH e IPHAN o corpo foi transladado para exames usada pelo Departamento de  Radiologia da FMUSP foi a  Gemstone Spectral Imaging   que nos proporcionou a análise em 3D dos remanescentes humanos da Imperatriz e uma visualização do material associado. 
Pode-se observar  detalhes do traje em que Dona  Leopoldina foi sepultada.
 
 
Tomografia D. Leopoldina.  Dep.de Radiologia FMUSP.  Imagens captadas de filmagens, Valter D. Muniz
Fotografia
 
Fotografia Infravermelho. Trabalho realizado por Elizabeth Kajiya  membro do Grupo de Pesquisa de
Física Aplicada com Aceleradores IF/USP.Restos de vegetais, provavelmente ainda dos funerais  que ficaram impregnados no vestido. D. Amélia, após a morte de D. Pedro, em 1834, usou luto pelo resto de
sua vida, em 1873.
 
Dona Amélia também foi levada para o mesmo exame  de tomografia a que fora submetida D. Leopoldina e D.Pedro.
 
Não se sabe, ainda, os motivos que levaram a  preservação do corpo da Imperatriz. Porém, com a
ajuda do Serviço de Verificação de Óbitos da Capital (também ligado a FMUSP) foi aplicado o mesmo método  de preservação que pode ter sido usado, não só em1873, como também em 1982, visando à preservação dos remanescentes humanos de D. Amélia, inclusive a substituição das urnas funerárias por urnas recentes.
 
A diferença é a substituição do chumbo pelo zinco, este foi soldado, assim como a placa de chumbo havia sido.Também foi construído outro nicho para abrigar os despojos da Imperatriz.
 
Estes procedimentos aplicados com os corpos e como material associado são temporários. Há necessidade
de um acompanhamento para manutenção, inclusive dos artefatos que foram higienizados e acondicionados
para exposição.Muitas amostras foram coletadas e já estão sendo analisadas por equipes do Instituto de Física USP e Faculdade de Medicina da USP e outras instituições  ligadas à Universidade de São Paulo, ou a universidades brasileiras, mantendo o caráter muldisciplinar do trabalho.
 
Análises que fazem parte do doutoramento de Valdirene do Carmo Ambiel autora e arqueóloga responsável pelo projeto.
 
Porém, a própria arqueóloga alerta: “É necessário que haja um trabalho de restauração urgente no
Monumento à Independência. Um projeto montado por arquitetos e engenheiros civis foi apresentado ao DPH da Prefeitura do Município de São Paulo, como parte dos trabalhos de pesquisa arqueológicas realizadosno local em 2012. A situação do local está próxima aoestado crítico
 
 
O ataúde de mais de 300 kg da Imperatriz D.Amélia é retirado do nicho localizado na parede da Cripta Imperial do Monumento à Independência
 
 
MAE/USP - Museu de Arqueologia e Etnologia - Universidade de São Paulo
Colaboração Paulo Marcelo Rezzutti

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