Andei sumido por mais de um mês por diversos motivos, mas estou de volta! Tive alguns compromissos e obrigações que me obrigaram a deixar o blog por um tempo. Alguns destes motivos eu vou apresentar aqui, eles têm tudo a ver com astronomia, de hoje e de 4.000 anos atrás! Um dos motivos do meu afastamento foi uma viagem que precisei fazer ao Egito, mais especificamente ao Cairo para um congresso. Além da astronomia feita atualmente tivemos contato com aquela de 2.000 a.C.. Fomos visitar alguns monumentos e, não só eu mas também vários outros colegas ficamos maravilhados com a engenhosidade dos antigos egípcios.Mas o que isto tem a ver com astronomia? Tudo!
Quem ordenou a construção das pirâmides foram os faraós, quem as construíram foram os engenheiros, quem as projetaram foram os astrônomos! Naquela época (e durante muito tempo, para falar a verdade) os astrônomos se confundiam com os sacerdotes. A construção das pirâmides, por exemplo, seguia rigorosamente preceitos astronômicos, desde a definição do local da construção até o corte dos blocos de pedra! A posição das pirâmides no solo marca posições de estrelas e/ou constelações celestes. Elas estão relacionadas com o aspecto do céu no momento do nascimento do faraó. Isso explica por que algumas pirâmides estão tão distantes umas das outras e pertenceram a pai e filho, por exemplo. Esse fato, inclusive, foi descoberto recentemente com o uso de GPS. As pirâmides em si, estão orientadas com cada face em direção a um ponto cardeal. E como isso foi possível? Através da observação meticulosa e cuidadosa do céu, dia após dia, noite após noite, durante séculos. Fundamental também foi o cuidado com a transmissão do conhecimento adquirido por gerações anteriores.
Os blocos de pedra, por exemplo, formam encaixes quase perfeitos. As bordas destes blocos têm, às vezes, um metro de comprimento e formam linhas retas, quase perfeitas. Como os engenheiros conseguiam isso? Eles esticavam uma corda e deixavam a sombra do Sol marcar uma linha reta no solo. Daí era só marcar a rocha e cortar com cuidado. Cada bloco era transportado sobre troncos e eram encaixados com o auxílio de rampas em níveis cada vez mais altos.
Algumas câmaras, em especial as câmaras funerárias, tinham alguma fresta por onde o Sol entrava no nascer de um dia específico. O aniversário do faraó, ou o início do verão, por exemplo. Toda essa engenharia só foi possível com a observação cuidadosa e paciente do céu. E isso naquela época era uma necessidade vital. Esta observação ditava o calendário da população, que se relacionava basicamente com o período de cheia do Nilo. Eram quatro meses de inundação onde a água subia mais de 10 metros algumas vezes, fazendo com que a agricultura fosse abandonada. Esse período de cheias, ligado ao regime de chuvas, precisava ser previsto, pois durante esta época não havia como plantar nem colher nada. Se não houvesse estoques de comida, haveria fome e faraó que deixava seu povo passar fome não durava muito.
A forma de vários destes monumentos também parece estar ligada a fenômenos astronômicos. As pirâmides representariam os raios de Sol vindos do céu, mas há também quem diga que representam a ascensão do faraó aos céus. Os obeliscos representariam os raios do Sol nascente, assim que ele desponta no horizonte, chamados hoje em dia de pilar solar.Obras de engenharia baseadas em astronomia na idade antiga são incontáveis, não só no Egito. Tão interessante quanto as obras em si, é ver a evolução que elas sofreram no decorrer do tempo. Mais ao Sul do Cairo, onde estão as famosas pirâmides de Quéops, Quéfrem e Miquerinos (três gerações de faraós), existe a primeira pirâmide conhecida, feita em degraus. Muito tempo depois é que os engenheiros resolveram cobrir esses degraus com uma camada de pedras que deixava cada face lisa. A primeira pirâmide que recebeu esta camada foi a pirâmide de Snefru, em Dashur. Só que as faces destas pirâmides eram muito inclinadas para se sustentar e no meio da construção os engenheiros tiveram de fazer uma mudança estrutural de modo que a metade faltante ficasse com uma inclinação mais suave. Esta pirâmide é conhecida como “a pirâmide torta”. No final da construção o faraó mandou que fosse construída uma outra pirâmide, mas não sei se os engenheiros da pirâmide torta tiveram um final feliz…
Isso mostra um dos primórdios do método científico, popularmente chamado de tentativa e erro. Depois desta experiência, todas as pirâmides saíram com inclinações mais suaves, finalizadas com estabilidade. Isto tudo demonstra a inteligência e a sagacidade humana, capazes de projetar e construir obras monumentais nos mais remotos tempos da história. Chega a ser ofensivo ouvir gente dizendo que as pirâmides são obras de E.T. por que os egípcios nunca as poderiam ter construído. Talvez se eles tivessem ficado pensando em bobagens assim nunca as teriam construído mesmo, mas ao invés disto projetaram e construíram ferramentas tão impressionantes quanto as obras que estão a nos contemplar há 30 séculos, parafraseando Napoleão.
Bom, um pouco de astronomia e um pouco de história na volta ao blog. No próximo post, mais um dos motivos para o meu afastamento. Não vai demorar tanto, eu prometo!
Por Cássio Leandro Barbosa - G1